O governo brasileiro estava atento aos avanços da indústria de computadores e sua importância estratégica para o futuro do país e seu impacto na segurança nacional. A Marinha importou seis fragatas da Inglaterra, dotadas de modernos computadores para controle de sistemas, mas faltava mão de obra local para sua manutenção. Marinha e BNDE lançaram o Projeto Guaranys, de estímulo à criação do computador nacional. Nesse contexto, nasceu a Cobra.
Fundação da Cobra – Computadores e Sistemas Brasileiros, uma joint-venture que reúne governo, capital privado nacional e inglês (Ferranti Inc.), destinada a atender as necessidades estratégicas de montar uma indústria para a oferta de componentes de fábricas de computadores, suas partes e peças. A Cobra foi a primeira empresa a fabricar computadores com tecnologia genuinamente brasileira.
A Cobra passou por sua primeira reestruturação, com abertura para o suprimento do mercado nacional, em vez da exclusividade contratual com a Marinha. A empresa assinou contratos com Petrobras e Makro, guinada que seria concluída com a entrada de bancos públicos e privados em seu capital algum tempo depois. Restrições governamentais para importação de equipamentos a posicionaram, temporariamente, como única fornecedora da indústria bancária nacional.
A Cobra inaugura a sua segunda fábrica em Jacarepaguá. Apelidado de Cobrão, o novo parque industrial ocupava área de 110.000 m², com área edificada de 25.000 m². A unidade triplicou a capacidade industrial já instalada e foi responsável por dar lastro à expansão que a empresa teria na década de 1980. O Cobrão marcou o ápice da trajetória fabril da companhia. De suas linhas de montagem saíram as linhas C-500 e C-400, computadores que marcaram época no país. A venda do complexo de Jacarepaguá foi concluída em 1997 e os recursos da alienação destinados ao pagamento da dívida com o Banco do Brasil, que, àquela altura, já tinha se tornado o controlador da companhia. A operação da Cobra foi levada para o prédio da Estrada dos Bandeirantes, 7966, no Camorim, também em Jacarepaguá.
A Cobra teve papel relevante na queda de braço pela disputa de mercado entre o governo brasileiro e multinacionais de informática nas décadas de 1970/80. A curva de aprendizado resultante da parceria com a fabricante inglesa Ferranti, sócia da formação original da empresa, possibilitou o lançamento do primeiro computador médio projetado por brasileiros, o Cobra 530 – um sucesso de vendas em seu tempo.
A Associação de Funcionários da Cobra (AEC) lança o manifesto “Porque a Cobra não pode parar”, no contexto de forte crise que levou o governo do presidente João Figueiredo cogitar a privatização da empresa ou mesmo o encerramento das suas atividades. No manifesto, a AEC fez defesa pela manutenção da empresa por “viabilizar a criação das condições para o surgimento de cerca de 430 fornecedores, fabricantes de componentes e periféricos, e de 65 empresas de software e serviços, além da carteira de mais de 1,2 mil clientes atendidos em todo o país, por meio da rede de 11 filiais e 29 centros de atendimento técnico”. No final dos anos 1980, os funcionários da Cobra vão às ruas contra o fim da reserva de mercado, que seria decretada em outubro de 1992, quando se escancara o país às empresas estrangeiras de tecnologia. Com produtos melhores e preços competitivos, não foi muito difícil impor um duro golpe às empresas brasileiras ainda em atuação – uma delas era a Cobra.
A atuação da rede Cobra Computadores alcança 40 municípios brasileiros, com parque instalado de seis mil máquinas. Essa fase de consolidação e profissionalização da empresa coincidiu com o desafio de enfrentar uma concorrência cada vez mais ativa, além de responder ao dilema sobre ser empresa privada ou estatal. Sócios privados da Cobra, os bancos não têm mais interesse na companhia, que define seus rumos na direção de Brasília.
Advento da Política Nacional de Informática e criação da reserva de mercado, com restrições e vetos à importação de aparelhos e equipamentos. No rastro da Cobra, acelerou-se a concorrência nativa com a criação de várias empresas de tecnologia. A empresa celebrava 10 anos de existência, orgulhosa de ser precursora e parte da história da informática brasileira. Eram 10 mil computadores e terminais espalhados pelo país.
João Baptista Figueiredo, último presidente do ciclo militar, compareceu à cerimônia do 10º aniversário da Cobra. A primeira tentativa de transferência do comando da empresa para o mercado não deu certo, poque havia quem a considerasse viável e que o país dispunha, sim, de capital humano apto a criar e inovar. “O papel estratégico da Cobra recomenda sua manutenção como empresa estatal com duas tarefas: a primeira de precursora, para indicar e ocupar patamares de produtos e serviços a serem produzidos pela indústria nacional do setor. A segunda, de continuar servindo de centro formador e irradiador de recursos humanos de alta qualificação. Ampliam-se por isso, o interesse e a necessidade do fortalecimento das empresas nacionais do setor com capacitação tecnológica e gerencial e sob o poder decisório nacional para que, em grau conveniente de acompanhamento da arte e da técnica, possam satisfazer aos usuários brasileiros”, discursou Figueiredo.
A Cobra lança o sistema operacional SOX em dezembro de 1988, em movimento para atuar no mercado de softwares. Grande orgulho dos gestores da Cobra em seu tempo, o sistema SOX recebeu certificação internacional da X-Open, um consórcio de empresas europeias e americanas com sede em Londres, após passar em testes de confirmação da sua aderência ao padrão Unix, sistema operacional da americana AT&T. Como não houve o uso dos códigos originais da AT&T, não havia a obrigatoriedade de se licenciar o software, o que representou economia para o país e a disseminação de padrão lógico utilizado por boa parte das máquinas daquele tempo. O SOX permitia rodar o MS-DOS, da Microsoft, e representou importante marco tecnológico nacional, já que poucos países, naquela época, foram capazes de desenvolver algo do tipo.
A Lei de Informática aprovada durante o governo Fernando Collor põe fim à reserva de mercado e provoca o fechamento de várias empresas nacionais do setor de tecnologia. A automação bancária ganhou força e a Cobra novamente precisa se reinventar. Em parcerias com IBM, Cisco, Microsoft, Oracle, entre outras, tornou-se prestadora de serviços e soluções no processamento eletrônico de documentos e assistência técnica para o Banco do Brasil, que passa a ser seu controlador majoritário a partir de 1994.
O governo federal decide retirar a Cobra Computadores do programa de privatização das estatais em agosto de 1994 e o Banco do Brasil assume o controle da companhia. A Comissão de Desestatização queria liquidar a empresa, mas o BB e a Caixa Econômica Federal discordavam da medida. Após assumir o controle da Cobra, o BB avalia os números da companhia e mapeia suas forças e fraquezas. O objetivo é projetar seu futuro em bases mais sólidas do que a sequência de prejuízos que acumulara nos exercícios antecedentes. Para sanar o alto endividamento da empresa, o BB opta por renunciar ao seu ativo mais valioso: a fábrica de Jacarepaguá. O imóvel-sede da Cobra é vendido em setembro de 1996 para reduzir o passivo da empresa. A partir dali, a Cobra passa a atuar com serviços de retaguarda bancária e tem o Banco do Brasil como seu principal cliente.
A Cobra Computadores participa do projeto de modernização das agências do Banco do Brasil, um dos maiores projetos de conectividade já realizados no Brasil até então. O projeto Hale-Bopp como ficou conhecido internamente na Cobra, alusão ao cometa do mesmo nome que passou próximo à Terra no primeiro semestre de 1997, interligou 5.000 dependências do BB em todo o país. Integradora da solução, a Cobra foi responsável pela entrega de equipamentos de rede, servidores, as estações-clientes, as impressoras e os software de gerenciamento – além de dos serviços de implantação, otimização da rede, treinamento de pessoal e de help-desk. O Hale-Bopp contribuiu para a repaginação das agências do BB, com a modernização das salas de atendimento e dos computadores utilizados pelos funcionários das áreas administrativas e atendimento ao público.
O nome fantasia Cobra-Computadores e Sistemas Brasileiros é alterado para Cobra-Soluções Tecnológicas Corporativas no ano 2.000, em sinalização de que o ramo do seu negócio não era mais a fabricação de computadores. Apenas três anos depois, em 2003, o nome fantasia muda novamente, desta vez para Cobra Tecnologia. Integrada ao Conglomerado Banco do Brasil, a Cobra Tecnologia adota o símbolo e as cores do seu controlador, quando cumpre papel relevante na migração dos terminais do Banco para o sistema operacional aberto. Além da parceria estratégica com o BB, a Cobra Tecnologia atua como fornecedora de soluções tecnológicas para órgãos da administração pública. Uma década mais tarde, em 2013, o conselho de administração (CA) do Banco do Brasil delibera por nova alteração do nome fantasia da empresa, o atual BB Tecnologia e Serviços.
A mudança do nome fantasia da Cobra Tecnologia para BB Tecnologia e Serviços em 2013 foi a face mais visível da pauta que o Banco do Brasil definira ao iniciar nova intervenção na companhia em 2010. O reposicionamento da marca representa alinhamento e proximidade com o BB e fez parte da estratégia mais global da reestruturação que deu início a um período de maior estabilidade e equilíbrio financeiro para a companhia. A prestação de serviços para o conglomerado Banco do Brasil torna-se o carro-chefe da atuação da empresa em frentes como assistência em terminais de autoatendimento, segurança bancária, centrais de atendimento, câmeras inteligentes, processos de negócios e de tecnologia da informação.
A vocação preferencial para ser suporte aos negócios do Banco do Brasil e suas entidades ligadas levou à diversificação do portfólio de produtos e serviços da BBTS, que passou a atuar em frentes de criação de infraestrutura, produtos e serviços digitais, disponibilidade, monitoração, gestão de segurança eletrônica, contact centers, apoio logístico a serviços bancários de cobrança e BackOffice, comunicação e conectividade, entre outros.
A BBTS expande sua atuação como provedora de soluções inteligentes com produtos pioneiros como o HIVEPlace, que a posicionou no ranking das empresas mais inovadoras de 2020, o PSIM, premiado como projeto destaque em Gestão de Segurança para bancos públicos, em 2022, e com o início de sua atuação como provedora de soluções em Cibersegurança.
Em 2023 consolidou sua posição como gestora de correspondentes bancários do BB, com a liberação de mais de R$ 3,5 bilhões em crédito agro.
A BBTS celebra 50 anos em julho de 2024. Olhando para o futuro, o propósito da empresa é criar conexões que geram valor para pessoas e empresas. Expandir o impacto social das práticas ASG com a promoção de políticas de diversidade e inclusão é gerar valor. A BBTS pauta sua atuação por critérios ambientais, sociais e de governança. Adota práticas sustentáveis e ações efetivas em favor da diversidade e equidade entre gêneros. Movida pela crença de que ambientes mais diversos são mais produtivos, a empresa quer proporcionar melhor equilíbrio de gênero e raça entre suas lideranças, com a ampliação das ações afirmativas de gênero nos programas de ascensão profissional. Isso é gerar valor, é fazer nova história e construir legados. Estamos prontos para o futuro: A BBTS busca a perpetuidade e quer ser empresa contemporânea e relevante no seu tempo, em qualquer tempo.
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